sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Farfalho que somos

Cristina Pinheiro no trabalho Campos de Fernando (montagem André Scucato)
Sonatas vermelhas farfalham pontes diásporas
Esquedacilham quinares cautelosos de sonhos
Pomos fragata ânsia resgata fragâncias dasas
Solfejam sonetos sentidos de ares que somos

Seremos libertos dos sonhos para sonhar no ser
Não ser do sonho esfinge que a realidade nega
Escapar da realidade fornecidas em conservas
Embaladas  do texto a tela a urbanidade a te ver

Arrancai da terra o fio da caixa que metáforas diz
torcidas em fatos, fotos, fluxus na falaciedade
Não assina ao asassinar e sim aciona a meretriz
Contrariando a lei, a lógica, a legível realidade

Tirésias somos e nos torce a angústica da safra
Rasa de consciência que na humanitude desperta
Depressa passa a tigela de vocábulos ao esteta
Poeta cure a dor que causa uma palavra cruzada

Sim em atas movimento as imagens dos sonhos
pintam e tecem a metáfora que somos, alhures
Em reino que da janela pode-se avistar abutres
A beleza encontro no farfalhar de que somos.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Baila Rima de Gestos

Para Cristina Pinheiro


O Mundo é um sépio mudo tom incolor
que a dança, gesta na sua rima de baile
Se soubesses a pintura que fazes... 

No movimento de suas partituras de cor 



Em cada canto de um preto-e-branco 

Colore a Poesia que seus passos empresta
Em cada caligrafia que sua  dança gesta 

Nascem diversos Poemas-Crisântemos   



Da lira que faz esquecer do tempo o poeta 

Nestes  variados tons dos desencontros
A caligrafia de tua rima baila no encanto
A residir na utopia sua esperança de espera

Na sapatilha que faz o mundo girar
desperta as musas de todas as notas
Vai baile, baila rima de teus gestos agora 

que é hora de tons de lírios, sonhar....

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A dançarina de sonetos

Cristina Pinheiro     Foto: André Scucato
    Era a personificação do movimento que a palavra transformava
    Um abandonado fraque ao sorrir sua beleza orquestrava poemas
    E  com soturno nanquim sobre escrivaninha suspirava a pena
    A esculpir sonetos dançarinos fugidios da sombra tão calma

    E seguindo passos sobre concreto amarelas flores vangoghiavam
    A expressão impressionistas de seus movimentos de dançarinas
  
    E os risos das expressões de sombra se descobriam nas retinas
    Libertas nas sapatilhas que pelo assoalho as letras enviavam

    No salão das apaixonadas estrofres percorriam-se todos os ritmos
    E as metáforas todas, bailavam em valsas de sinestesias
   
    As metáforas bailavam como frases no encontro de dois artistas
    Ela, a encantar e a seduzir  com seus movimentos o poeta
  
    E o poeta a se encantar com os sonetos de dançarinas.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Amamos não as coisas, mas as palavras

        Amamos não as coisas, mas as palavras
        Estas que carregam do peso a incerteza
        Que fazem  toda a vida uma metáfora
        Diásporas carregadas nos tons de letras

        Arqueologia de essências em descobertas
        Que atenção do ourives, esculpe os versos
        Que o ar estaciona em sons diversos
        Quando a pena atingiu do sentido a fresta

        No instante da  página  existe a lágrima
        E o triste memoreio de  apenas lembranças
        Em meio a alguma linhas,  palavras...
        Que embaralham-se em meio a  tantas       
   
        Aprisionadas em seu cárcere, memória
        Sussuram os seus múltiplos significados
        Que bordam lentamente  os retratos
        Do passado que compõem mil histórias

        O que é capaz de mudar o tempo do homem ?
        Saber que amamos não as coisas, mas as palavras
       Que insistem em esconder-se atrás dos nomes...
       Máscaras de corpos que o sentido afaga...

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Elegia a Ausência

Foto do vídeo Elegia a Vida (André Scucato e Cristina Pinheiro)


            A metáfora do beijo presa ao silêncio do tempo
            Retrato destilado e consumido das velhas horas
            Senhoras que tecem areias escolhidas ao vento
            E, com mãos de mar, vão e vem tecendo rosas   
            Pétalas de ausências esparsas na memória
            Sempre que a essência do homem, esquecemos
           
            Se extinto a vista mas bem visto ao peito                         
            Guarda a rima rara que é esta lembrança
            Tendo depois que finda a vida, o efeito
            De discorrer em variados tons a esperança
            Valsando ao som da música o antigo ritmo
            Nos novos passos de dançar conforme a dança
               
            Sê,  a árdua vida se tornar quimeras
            Empresta-me o papel, a tinta e a pena
            Que as minhas únicas armas são estas       
            Escrever ao corpo o que o amor sustenta
            Hei de acabar assim com o triste fardo
            Ao dar  sentido ao verso e ao poema

           Não resgata o tempo o que a escrita rouba
           E adorna em sua linhas metáforas extintas       
           Da tinta que compõe o verso que já foi embora
           No traço riscado que ao lembrar, consista               
           Mostrando a forma que não mais se encontra
           Mas não perdendo o motivo pelo qual exista.   
               
                                                         André Scucato
                      

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Poemas que Chovem

Sou apaixonado por dias tristes. Eles me são. Os dias de sol possui a rotina do sol. Pontualmente burocrático. Não tira férias. Crê na utopia da justiça. As dias de chuva não.

São descompassadamente belas. As folhas, no outono, cobrem a seca cor da terra, como se pinta o chão no outono para receber o caimento das folhas.

Os dias de chuva, eles me são, um dilúvio de poemas embarcados em curvas de folhas d´águas que do céu despedançam-se ao solo.

Não há como resistir a música da chuva quanto toca o chão.

Nos dias que chovem as ruas de manhã vestem-se de noite e cores azuladas. Sobre o seu vestido de piche, tons fugidios das árvores deitam sua caligrafia de tinta. Ora adormecem, ora despertam,
Coreograficamente.

Quando chove, atamanham-se as poças de água onde embarcam metáforas em caravelas verdes, que ora adormecem, ora acordam, despertadas pelos ventos.

Quando acordo de mim nos dias de chuva, acapoto-me de pensamentos, inquietantes inquilinos que não saem para trabalhar nos dias de chuva e fazem farra no prédio de minha razão.

Os dias de chuva me são  guarda-chuvas onde a natureza
liquida metáforas.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Em cena o quadro que a linguagem Habita e se apaixona

Texto em homenagem ao pintor Fernando Campos 
              Cena do Filme A Flor da Tela (Sobre a obra de Fernando Campos) Produção Cinema de Poesia
     
           Todo quadro é um sonho que o artista vive. Todo viver é traço que o artista sonha. Da cor a luz o amor é beijo que se encena, a sinfonia que a dor  assombra. Em cada canto uma referência lembra, o que mil e uma noites retiram da sombra. O  Amor  é o Beijo que em Klint soma, em Lautrec o desejo que a dançarina encena. Formas encorpadas por Botticceli amada ou simples mistérios de Mona Lisa. Quantas histórias a mão afaga nestas pinturas que se habita? Nestes diálogos que a mão desenha, nestes mil traços de poesia!
    
         Nos diga seus Campos poeta Fernando, nos faça ver por suas linhas, as danças passadas de mãos solitárias que da penumbra nos traz a vida. Recite belezas imaginárias que a retina a tela transforma. O quadro é palco e a personagem é viva, e todas as cores se transformam em notas. Respira o cabaret de tuas formas, deita o que a linguagem seduz, sou a musa que sua arte personifica, da criação a sua própria luz. Sou do desejo a arte e a tocha a imitação de mil vagalumes, sou o sabor de tuas doces horas, o caminho que tua arte conduz. O veneno e o antídoto de teu próprio bálsamo, a arquitetura que  relicário reluz, o motivo pelo qual se existe, nas curvaturas de coreografias azuis.
   
      Pena que o humano não possa habitar nestes belos quadros, porém sacio da cor a beleza como a sede se sacia com o trago, como o afago que a saudade beija, na cintura de um belo retrato. Trago no extâse de minha loucura, na sutileza de mãos adornadas, toda a destreza de um simples toque, toda a paixão na tela deixada. Deixa nestas saias rodadas as formas de teu absinto, e retira de nós o abismo, em troca de jardim de metáforas.
    
     E a vós, personagens distantes, observa os diálogos invisíveis, os caminhos de misteriosas fontes, as linguagens dos quadros possíveis, que a narrativa de tua caligrafia esconde. Decifra, ame e habite, sofra, amadureça, se encante, declame....  Se o pintor o mundo recria, é que em cena no quadro habita a linguagem pelo qual se apaixone. 

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

As Naturais Considerações sobre a Poesia

Assim define  o poeta a diferença entre poema e poesia.

         O poema é o sussurro agitar das sombras, incitadas entre as ramificações dos galhos pelo sopro do movimento,  sem  corpo, espalhado pelo ar. É a sedimentação do solo, antes de depositada a poeira do tempo.  É o contorno das esferas refletidas no interior da lágrima do orvalho em repouso suspenso da pétala. O instante do encontro em que o impacto de um grão de água extinta a sua narrativa, na dança de partículas.

        Não é a sensação da sede que virá por entre as fendas rasgadas da terra, nem ao menos o sofrimento do sentir que avança compondo futuros diversos imaginários. Não o diálogo que colhe palavras em esquinas de feiras que sorrateira esgueira como de um buraco a topeira que parece surgir de alguma solidão de espaço. Não é a constelação de girassol que acompanha Apolo em sua jornada diária, após o prenúncio da Aurora, nem a espuma do mar de amores. Nem a felicidade de um andarilho que fostes, a seguir seu destino pela humildade do acaso. Pois todos os detalhos poderiam amorfar-se em ruflar de pares e asas. Comove-se com o retalhes que se embalam na simplicidade da vista. Alegra-se com o sorriso desprendido de uma forma ingênua. Todas estas considerações não são poemas, é poesia.

Os poemas são a essência, não pelo que  forma,  nem por sua forma, mas como matéria bruta que sedimenta o que será criatura. A poesia é o despertar autômata, provida de ânima, de energia, de possibilidades que podem espatifar de acordo com a direção do vento, do acorde de um pensamento, de uma cor agem a que se fia,  um sabor do qual se alimenta do passado uma fatia, ou até mesmo um galho que agita a sombra adormecida ao solo. Os poemas são esses fios  aparentemente invisíveis que são observados entre o pousar da ave em um galho e o movimento das sombras no chão. Os poemas  se encontram na terra, bem como a poesia é encontrada nos ares. Quando a poesia se movimenta, modifica-se a forma do poema.
        Quanto aos sentidos, seguem os poemas em linhas, ao pares, a poesia aos seus destinos, triangulares. Ao traçares do poema a linha já sabes por onde caminha, e a poesia, pois é, ia, mas seguiu uma direção ao ter o tímpano encantado pelo timbre que alado alterou a silhueta do sentido quando o som alirou o ouvido.
         O poema tem o gosto de repetição enquanto a poesia tece figurinos diversos e atuações distintas para mesma palavra que habita e  escreve histórias para diversos personagens. Os poemas; narração, poesia; narrativa.
       A sutil diferença entre poema e poesia não se identifica com a distinta semelhança entra amor e paixão, pois ambas são delegadas a categoria dos sentimentos. Aproximam-se, mas não se exatam com a falta de semelhança entre o tato e o olfato. Nem a tradição dos matemáticos que crêem em princípios já provados anteriormente em contradição aos filósofos ao reunir todas as linhas traçadas para arquitetar a origem dos conceitos e a  sua forma de pensar, repensando-as. Nem equivale a ferocidade do abismo no qual existem o fogo e a água, pois apesar de constituírem-se em elementos primordiais, caminham pela total antítese na matéria de sua formação e destino. A sutil diferença entre poema e poesia, equivale-se na diferença entre o sabre e o sino. Ambos são formados do mesmo elemento, no entanto servem a própositos distintos.
        A semelhança sincera é o espaço de atuação, utilizadas na simetria coreográfica de dançarinos sobre o tablado. Dividem a mesma margem da inexistência que o poeta avista ao questionar a branca face do espelho que antecede o encontro que entalha a face do pensamento, quando o lápis desnuda a página, cobrindo a ingenuidade nua do abstrato com formas.  São esculpidas no mesmo instante do beijo de um cinzel na superfície de um mámore; mas podem ter uma a forma do pensamento e a outra de elefante.
       Sobre a tatilidade outra consequência. Uma escorre entre os dedos quando segura, a outra escultura a sua presença. Quanto ao movimento, uma coreografia, a outra do mover se isenta. Quanto ao julgamento, uma é sentença, a outra setencia. Quanto a estrutura, uma obriga a forma, a outra  a forma abriga. Assim define  o poeta a diferença entre poema e poesia.